terça-feira, 16 de novembro de 2010

CHÁ CIENTIFICO 18/11/2010 - UMA FUTURA BIÓLOGA NO BUTANTAN





Nesta quinta-feira dia 18/11/2010 a estudante de Ciências Biológicas   Ana Paula Rezende  Ligneul apresentará no Chá Cientifico o trabalho que desenvolveu no Butantan, mas antes do evento ela já descreve no texto abaixo um pouco da sua experiência em São Paulo.  A estudante Ana Paula apresentará no encontro a família boideae. 



 
UMA FUTURA BIÓLOGA NO BUTANTAN
Ana Paula Rezende Ligneul


                                                                        Philodryas olfersii

O Instituto Butantan, bem conhecido por todos, é como um sonho para qualquer pessoa que se interesse por serpentes. Eu sempre me interessei pelo assunto, e consegui realizar esse sonho.
A minha história com cobras é um pouco diferente. Apaixonei-me por esses animais por causa de um cachorro, que morreu por picada de jararaca na minha casa. Resolvi, então, estudar esses animais, por conta própria, com a finalidade de “exterminá-los”, mas acabei me apaixonando por eles e querendo entendê-los cada vez mais. Decidi então o meu futuro: trabalhar com serpentes, ser uma grande herpetologista no Brasil.
Assim que terminei o ensino médio prestei vestibular no UNIFESO, para o curso de Medicina Veterinária. Fui classificada e matriculei-me. Durante o primeiro ano do curso descobria, a cada dia, que tinha feito a escolha certa. Quando estava cursando o segundo período, recebi, de um professor que sabia do meu interesse por répteis, um convite para estagiar por dois meses (dezembro e janeiro) no Instituto Butantan. Sem nem ao menos pensar, aceitei, pois realizaria um sonho que já tinha há anos, mesmo antes de entrar para a faculdade.
Chegando ao Instituto, fui direto para o laboratório de Herpetologia, chefiado pelo simpático “Kiko”. Fui muito bem recebida e logo já recebi tarefas a cumprir. Comecei com o básico - taxonomia de serpentes. Era preciso que eu soubesse identificar cada espécie de cobra, pelo menos as mais comuns. Confesso que era uma tarefa um pouco chata: com as cobras mortas e fixadas, e um livro ao qual chamávamos de “chave”, ía passando por cada passo até encontrar a espécie da serpente que estava estudando.
Após a taxonomia veio a parte mais interessante, mais empolgante e mais apaixonante: o manejo. No manejo de serpentes aprende-se como lidar com o animal, como pegá-lo sem ser mordido, ou picado, como não estressá-los, como fazer exames, e várias outras coisas. Isso permite criar uma relação de carinho e respeito com os animais.
Infelizmente, no laboratório em que estagiei, todos os animais que chegavam à recepção eram sacrificados. Isso acontece devido ao fato de chegarem muitas cobras em um só dia e não existirem instalações suficientes para criar tantos animais; e, ao mesmo tempo, essas serpentes não poderiam ser devolvidas à natureza, por uma simples questão de ecologia: não se sabia de onde tinham vindo, que doenças poderiam ter e como se adaptariam a um novo habitat.
No instituto, no meio de tantos biólogos, eu era a única veterinária. Foi então que percebi que tinha escolhido o caminho errado para chegar ao meu objetivo. Até decidir por uma transferência de curso passaram-se 2 períodos, e, quando entrei no quarto período de veterinária pedi minha transferência para o curso de biologia. Não me arrependo nem um pouco da minha decisão.
Nesse meu pequeno período de estágio apaixonei-me mais ainda pelas serpentes. Quando se convive com esses animais aprende-se a respeitá-los, a entendê-los e a admirá-los em cada detalhe. Percebe-se que existe uma forma amigável de lidar com seres tão incríveis, mas que, pela falta de conhecimento, são temidos pela maioria das pessoas.
Vida de biólogo nem sempre é cheia de aventura. Às vezes pode ser um pouco monótona, pois, é preciso passar horas em um laboratório pesquisando, estudando e revendo mil vezes a mesma coisa. Mas, quem ama o que faz, passa por cima de coisas que nem sempre agradam com um sorriso estampado no rosto, somente pelo fato de saber que o resultado final valerá o esforço de tanto trabalho!


                                                            Dissecção de Crotalus durissus      

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